Muitas pessoas procuram na Astrologia as respostas sobre um futuro que lhes causa muito medo e ansiedade. "Quando vou arranjar emprego? Quando vou encontrar o amor? Quando vou ter filhos?". Esperam que o astrólogo tenham informação concreta e precisa sobre o que ainda está para vir, como se ir uma consulta fosse um noticiário do futuro: "... e, dentro de 1 ano, 2 meses e 3 dias, você vai começar a trabalhar com um homem fantástico, que a vai pedir em casamento passados 2 meses de encontros casuais + 7 meses de namoro sério..."
Incomoda-me esta ideia de que o "destino" é uma narrativa já escrita da qual somos apenas espectadores. Desde que me lembro de existir que na minha lista de desejos surge em lugar destacado uma ambição: Poder decidir o que fazer com a minha vida. Quando manifestava esta ambição em criança, davam-lhe pouca importância. "Aproveita agora, que não tens preocupações de adultos!" Qual quê, nada me demovia. As preocupações seriam apenas uma consequência menor da extraordinária condição de ser livre. O que eu queria mesmo era decidir. Depois disso, acertar ou falhar. E falhando, aprender para decidir melhor na vez seguinte.
Quando comecei a estudar Astrologia, percebi que este "anseio por responsabilidade" seria o tema principal da minha vida. Sol em Capricórnio é (também) isso, não? Desenvolver um sentido de dever cada vez mais apurado, que compreende o preço de cada escolha e assume as consequências dessa escolha. Por outras palavras, "não há almoços gratuitos". Mas como também gosto de me lembrar muitas vezes, "se fosse fácil não teria piada" (aqui a "piada" é um bónus da minha Lua em Leão, que precisa de always look on the bright side of life até nas circunstâncias mais desafiantes).
O signo solar não é apenas aquilo que nos vamos tornando ao longo da vida, é também aquilo que vamos dando ao mundo. Nesse sentido, o meu "dom" é o da responsabilidade. E talvez por isso, quando me fazem perguntas tipo "bola de cristal", fico secretamente horrorizada.
Pois minha senhora e meu senhor, se o futuro já está definido ao ponto de poder ser "lido" por alguém que se ache capaz disso, então para que raio havemos de sair da cama todas as manhãs? Afinal, façamos o que fizermos, o resultado é sempre o mesmo!
É como ser jogador de futebol e saber de início o resultado da partida. Se sabes que a tua equipa vai perder, mais vale ficares sentada na relva para não cansar as pernas. Se sabes que a tua equipa vai ganhar, mais vale ficares sentada na relva para não cansar as pernas: uma rajada de vento ou qualquer outra força (sobre)natural há-de marcar os golos.
O problema com esta visão de que a vida acontece sem que a tua vontade tenha alguma importância é que te retira toda a responsabilidade sobre os acontecimentos, mas também todo o livre arbítrio e, com ele, toda a motivação. Abdicas de ser uma pessoa (cada vez mais) consciente para te tornares num simples espectador das tuas circunstâncias. O que quer que aconteça, a "culpa" é de alguém lá fora, a "sorte" um sonho desejado mas quase sempre impossível de alcançar. E assim passas pela vida como uma criatura imaturas e irresponsável, que prefere acreditar em previsões deterministas do que perceber de que forma podes honrar o teu verdadeiro potencial individual.
Os eventos não nos acontecem, somos nós que acontecemos aos eventos. Se um tijolo cai na cabeça de um homem quando ele passa na rua, a responsabilidade é do homem. Foi ele que entrou no campo de queda do tijolo. O homem aconteceu ao tijolo, porque o homem é um indivíduo consciente, e o tijolo apenas um pedaço da natureza universal.
Admitindo que nunca saberás realmente como tudo isto funciona, onde termina a tua liberdade e começa aquilo que não podes (nem poderás) mudar, talvez o melhor cenário seja acreditares que foste, és e serás tu a determinar a essência das tuas circunstâncias, quaisquer que elas sejam. Com esforço, com perseverança, com sentido de justa responsabilidade - sabendo que deveres e expectativas te competem cumprir, e que deveres e expectativas são fruto de inconsciência e ilusão. Afinal, como escreveu Jung, aquilo que de inconsciente não formos capazes de tomar consciência, manifestar-se-á sempre nas nossas circunstâncias - e chamar-lhe-emos destino.
Por isso qualquer que seja a tua questão, a tua inquietação, o teu problema, não me perguntes quando ou como se vai resolver, porque sem bola de cristal não tenho resposta para te dar. Pergunta-me o que está nas tuas mãos perceber, contribuir, aperfeiçoar para que possas ultrapassar essa questão/inquietação/problema: teremos então uma produtiva e esclarecedora conversa.
O propósito essencial da Astrologia não é tanto o de nos dizer o que vamos encontrar no nosso caminho,mas o de sugerir como devemos encontrá-lo - e a razão fundamental para esse encontro. Que qualidade em nós, que tipo de força é necessária para atravessar uma fase específica do nosso completo desenvolvimento enquanto pessoa individual.