Quando era criança, a minha avó levava-me a passear ao jardim público com muita frequência. Dizia-me “Não pises a relva, não assustes os pombos.” Dizia-o com gentileza, não soava a uma ordem mas sim a um convite impossível de resistir. Às vezes perguntava-lhe por que não pisar a relva, ou correr atrás dos pombos, como faziam os outros miúdos. “Já pensaste o que seria do jardim se toda a gente pisasse a relva? E os pombos, achas que gostam de sustos?...”. E finalizava com esta frase inesquecível, pronunciada lentamente como que para dar tempo de ser absorvida pelo meu cérebrozinho jovem: “Não faças aos outros aquilo que não gostas que te façam a ti”.
Todos temos um bocadinho de cada signo no nosso mapa natal, mesmo que lá não esteja nenhum astro. Porque cada área da vida se reflete e revela nas casas astrológicas desse mapa, temos (habitualmente) todos os signos presentes de forma inequívoca no conjunto das nossas experiências. Para mim, Balança é o signo que alimenta as raízes familiares, a herança e os ensinamentos dos antepassados que nutrem e acolhem o meu crescimento desde sempre. E as memórias que melhor retenho da minha avó são precisamente aquelas que tão bem exprimem o melhor de Balança: o respeito pelo que é comum, a importância de manter o equilíbrio, de preservar a harmonia e a paz em qualquer circunstância, nas grandes e nas pequenas coisas.
Mais tarde, nos tempos de faculdade, voltei a contactar de perto com estas energias – agora noutro formato. Depois de muito tempo a tentar entender as sensibilidades e subtilezas de variados tipos de Peixes (ver post anterior), eis que entro numa nova fase “Balança” do meu crescimento. A melhor amiga e o namorado de então, ambos nativos do signo. Admirava-lhes o raciocínio desapaixonado, a temperança, o apelo do que é belo e desperta o mais elevado sentido estético – desde a música até à formatação dos trabalhos de grupo! Sendo (bastante) mais visceral que isso, ficava às vezes boquiaberta com o que me parecia ser frieza imperdoável (“Como assim, não choraste no final do Moulin Rouge…?!?!?”), mas quanto mais me debruçava sobre a Astrologia das coisas sombrias e cruas que todo o ser humano esconde no mais íntimo da sua alma, melhor percebia a típica resistência dos Balanças no que toca a mexer no que é doloroso, vergonhoso, feio.
Conheci recentemente um casal, ambos nativos de Balança, em que essa resistência se mostrava de uma forma muito óbvia (pelo menos para quem estava de fora, claro ;-) Estavam na iminência de ter de tomar uma decisão muito importante que teria um impacto significativo no seu futuro enquanto jovem família. Já teriam pensado no assunto, individualmente, mas a sua principal preocupação era a dificuldade em comunicar com franqueza: cada um temia estar em desacordo com o outro, e o medo de um possível conflito paralisava-os ao ponto de nem sequer conseguirem começar a discussão!
Para Balança, o essencial é entender o Outro, chegar ao compromisso. Sem dramas, sem brigas, sem sequer levantar a voz. Alguns conseguem lá chegar genuinamente, mas muitos cedem a comportamentos enviesados (e até um pouquinho manipuladores) para levar a sua adiante sem levantar ondas. E porque cada nativo de Balança se define e descobre através do espelho que é a pessoa que está do lado de lá, “que espécie de pessoa serei eu se o meu companheiro perde as estribeiras desta maneira?” – Resposta: uma Balança desequilibrada.
Mas esse desequilíbrio nem sempre começa com brigas. Noutro casal, ele com Ascendente Balança e ela bastante mais visceral (Touro-Escorpião), ele conquistou-a com grandiosos gestos românticos do tipo viagem surpresa a Paris, ou banho com velas e pétalas de rosas. (Sim, os Balanças podem tornar-se verdadeiros especialistas na arte do romance!) Mas com o tempo, à medida que o namoro foi dando lugar à rotina nos meses que se tornaram anos, nada disto era suficiente para ela. Queria mais intimidade, intimidade verdadeira, intensa, profunda. Como eu costumo dizer, intimidade do tipo “somos parceiros no crime, eu escondo os teus cadáveres e tu escondes os meus”. Mas para Balança a verdadeira paixão pode ser tão desafiadora (e assustadora!) como o ódio – “é emoção, é descontrolada, logo desestabiliza-me, confunde-me, deixa-me todo torto por dentro e detesto isso!”. Conclusão: ele encontrou alguém mais de acordo com o seu temperamento temperado, deixando-a a ela a marinar durante alguns anos o rancor por ter sido abandonada.
O que há a fazer então com estas pessoas, tão ansiosas por equilíbrio quanto suscetíveis a perder o prumo? Respeitar as suas necessidades, aceitar a sua noção de harmonia (por muito “insípida” que possa parecer àqueles de nós que cultivam paixões e obsessões de estimação). O dom que trazem a este mundo é de valor incalculável: um “bom” Balança relembra-nos de que todos precisamos de equilíbrio e harmonia para que a vida prossiga com integridade, sem se perder nas paixões irracionais, no egoísmo ou na fealdade dos instintos mais baixos. As energias de Balança (com ou sem astros) elevam-nos a um padrão mais elevado de comportamento, de raciocínio e, principalmente, de convívio e saudável compromisso com o resto da Humanidade – uma pessoa de cada vez.
Ou, como me ensinou a minha avó, fazem-me querer respeitar todo e qualquer pombo e nunca, mas nunca mesmo, pisar a relva do jardim público.